Resumo

A produção agrícola brasileira faz uso de pesticidas para controlar pragas, doenças e plantas daninhas. Anualmente no Brasil, somente com o uso de pesticidas, as hortaliças movimentam cerca de 70 milhões de dólares, plantadas em uma área aproximada de 326 mil ha, concentrada ao redor dos grandes centros. O herbicida ácido 2,4- diclorofenoxiacético (2,4-D) é o mais utilizado nas lavouras do Brasil, principalmente nas plantações de cana-de-açúcar. O mal uso de herbicidas pode levar à contaminação dos solos e do ambiente como um todo, o que tem gerado preocupações com relação ao comportamento destes compostos no ambiente. Sabe-se que na microbiota do solo existem microrganismos capazes de degradar pesticidas, entre eles o 2,4-D. A partir de estudos anteriores de bioprospecção, foi possível montar uma coleção de culturas bacterianas com a capacidade de crescimento em meio contendo 2,4-D como única fonte de carbono. Este trabalho teve como objetivo selecionar bactérias isoladas do solo de rizosfera de chicória (Cichoriun endivia L.) com capacidade de biodegradação/biotransformação do herbicida 2,4-D. Os isolados foram cultivados em meio Luria Bertani (LB) enriquecido com 2,4-D, para que se obtivessem colônias puras e isoladas. Em seguida foram realizadas as análises morfo-tintoriais das colônias e morfológicas das células bacterianas. Foi realizado o experimento em meio mineral contendo 2,4-D como única fonte de carbono para a verificação do potencial de degradação/biotransformação do herbicida 2,4-D por dez isolados bacterianos. A capacidade de biotransformação do 2,4-D foi avaliada por cromatografia líquida de alta eficiência. Os isolados apresentaram mudança nos perfis cromatográficos quando comparados ao gerado pelo 2,4-D, sugerindo a biotransformação do herbicida pelos mesmos. A realização deste estudo permitiu a caracterização morfo-tintorial e morfológica dos dez isolados pertencentes à coleção de culturas bacterianas. Os isolados CH10 e CH22 geraram um produto de biotransformação do 2,4-D mais apolar que o mesmo. Sabemos que moléculas mais polares podem ser facilmente absorvidas pelos organismos e que, dependendo da molécula gerada, podem ser mais tóxicas a estes. Estas moléculas oriundas da biotransformação do 2,4-D também podem ser de interesse comercial nas indústrias de solventes, tintas e borracha. Os estudos com estes isolados apontam possibilidades biotecnológicas que não se restringem ao emprego em biorremediação, mas também à indústria.